Perfect Days - um filme para carregar no analógico coração
O que faz os dias perfeitos e uma vida maravilhosa?
Esse é daqueles filmes que dá vontade de morar.
Vivendo o dia com Hirayama, o que de imediato pensei foi: mais do que Perfec Days, que great life!
É a vida simples de um homem solitário que limpa banheiros públicos em Tóquio – meu racional lembra de julgar e resumir. Mas na verdade quase não consigo deixar esse julgamento entrar, o filme é de sentir, e sinto: what a great life!
O que faz a vida ser ótima?
Não existe nenhuma vida tão bem resolvida, com dias serenos e carmas levíssimos... Todas as existências nesse Kali Yuga são malucas – bem me lembrou uma amiga esses dias.
Mas é possível bancar o próprio mundo com beleza dentro do seu mundo de escolhas – parece nos lembrar Harayama. Abrindo a porta da humilde casa antes da aurora, pegando um café enlatado na máquina de bebidas, escolhendo uma fita cassete entre clássicos dos anos 1970, House Of The Sun abrindo a vida, entre outros hinos.
E seus dias não são todos iguais, nem os movimentos do seu sentir. Um humano com algumas décadas de existência, talvez algumas vidas já vividas nessa mesma vida, um humano abalável aos reencontros difíceis, sentindo pungentes as decepções, tristezas, cansaços, estresses. Mas com uma irredutível habilidade de encantamento (e de amar, a si, a vida em si).
O encantamento, a gratidão, a delicadeza nas pequenas coisas – uma imagem que me chamou atenção foi a oferta de um copo de água com cubos de gelo na mesa do bar – essa grande felicidade sem custos. As magias nos encontros, que às vezes são olhares e trocas singelas.
Uma existência feita de trabalho dedicado, olhar atento, presença íntegra.
Perfect Days talvez seja um filme sobre escolhas conscientes. Saber de si, saber de seus passos, de sua vida aquém das opiniões do mundo (essas nem se fazem existir). Saber, inclusive, que às vezes os mundos, mesmo muito próximos, se desconectam. Saber da vida que escolheu pra si e estar confortável nela. Estar em si tranquilo, amoroso, aberto à leitura, à música, à fotografia...à escuta, ao olhar. Satisfeito no coração – esse analógico coração, em um tempo tão presente que os mundos online não comportam.
O que faz os dias perfeitos e uma vida maravilhosa talvez seja apenas e tão somente... uma pessoa incrível.